Glossolalia: A Linguagem Transcendental do Espírito
Você já se perguntou sobre aqueles momentos em que as palavras conhecidas simplesmente não são suficientes? Quando algo do mais profundo do seu ser busca expressão, mas nenhum idioma terreno parece capaz de carregar o peso da sua experiência? Bem-vindo ao fascinante universo da glossolalia – um fenômeno que transcende as fronteiras da comunicação humana e nos convida a explorar as dimensões mais profundas da experiência espiritual. Neste documento, exploraremos desde suas raízes históricas e bases bíblicas até suas manifestações contemporâneas, convidando você a uma jornada de descoberta que desafia os limites da linguagem e nos conecta com uma realidade mais ampla que existe além das palavras cotidianas.
História e Contextos Religiosos da Glossolalia
A história da glossolalia remonta ao próprio alvorecer da experiência religiosa humana. No entanto, foi no evento fundacional da Igreja Cristã – o Pentecostes – que este fenômeno ganhou sua expressão mais luminosa e transformadora. Imagine aquele momento: o vento sobrenatural invadindo o cenáculo, línguas de fogo pousando sobre cada discípulo e, de repente, aqueles homens e mulheres simples começaram a falar em idiomas que nunca haviam estudado. "E todos ficaram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem" (Atos 2:4).
A Igreja Primitiva
Nos primeiros séculos do cristianismo, a glossolalia era reconhecida como uma das manifestações carismáticas, um dos "dons do Espírito", conforme Paulo descreve em 1 Coríntios 12-14. O apóstolo estabeleceu diretrizes para seu uso adequado nos cultos, evidenciando tanto sua presença regular quanto a necessidade de ordem em sua expressão. "Eu quisera que todos vós falásseis em línguas, mas muito mais que profetizásseis" (1 Coríntios 14:5).
Com o passar dos séculos e a institucionalização da igreja, estas manifestações tornaram-se menos frequentes na corrente principal do cristianismo, embora nunca tenham desaparecido completamente, ressurgindo em movimentos como o montanismo no século II.
O dia de Pentecostes marcou o início da era do Espírito Santo na igreja cristã, quando a glossolalia se manifestou como sinal visível da presença divina entre os seguidores de Jesus.
No início do século XX, um avivamento extraordinário em Azusa Street, Los Angeles, reacendeu a prática da glossolalia no mundo moderno, dando origem ao movimento pentecostal. Este fenômeno espiritual rapidamente se espalhou pelo globo, criando uma das mais dinâmicas correntes do cristianismo contemporâneo. Posteriormente, o movimento carismático levou estas experiências para denominações tradicionais como o catolicismo e igrejas protestantes históricas.
É fascinante observar que fenômenos semelhantes à glossolalia são encontrados em outras tradições religiosas além do cristianismo. No xamanismo siberiano, ritos africanos tradicionais, e em certas práticas místicas hindus, manifestações vocais extáticas são documentadas. No entanto, os teólogos cristãos geralmente distinguem entre a glossolalia autêntica como dom do Espírito Santo e outros fenômenos semelhantes em sua forma, mas distintos em sua origem e propósito espiritual.
Você já refletiu sobre como uma manifestação espiritual pode atravessar milênios e ainda hoje tocar vidas de maneira tão profunda? A glossolalia continua a ser um fenômeno vivo, conectando os crentes contemporâneos com aquela experiência primordial no cenáculo de Jerusalém, lembrando-nos que o mesmo Espírito que falou através dos discípulos ainda fala hoje, convidando-nos a uma comunicação que transcende as limitações da linguagem humana.
Características Linguísticas da Glossolalia
Ao observar alguém em profunda experiência de glossolalia, você notará um fluxo sonoro fascinante que, embora pareça aleatório ao ouvido não treinado, revela padrões surpreendentes quando analisado cientificamente. Como seria experimentar uma forma de expressão que transcende as estruturas convencionais da comunicação humana, uma linguagem que brota não do intelecto, mas das profundezas do espírito?
Estudos linguísticos detalhados revelam que a glossolalia possui características sonoras consistentes e identificáveis. William Samarin, renomado linguista da Universidade de Toronto, após extensas pesquisas, concluiu que estes fenômenos apresentam uma "estrutura fonológica definida" – não são meros sons aleatórios, mas seguem padrões reconhecíveis, embora distintos das línguas naturais. O praticante frequentemente utiliza um repertório limitado de consoantes e vogais, criando sequências que respeitam certas regras implícitas.
Elementos Prosódicos
A glossolalia apresenta ritmo, entonação e cadência que se assemelham à linguagem natural. Frequentemente segue padrões melódicos e acentuação que lembram o idioma nativo do falante.
Padrões Repetitivos
Sequências específicas de sons tendem a reaparecer durante a manifestação, formando algo semelhante a "frases" ou "expressões" recorrentes dentro do fluxo sonoro.
Assinatura Fonológica
Cada praticante desenvolve sua própria "assinatura sonora" – conjunto único e reconhecível de sons, sílabas e cadências que permanece relativamente constante em diferentes sessões.
Influência Cultural
Embora transcendental, a glossolalia é moldada pela cultura linguística do falante, com pentecostais brasileiros apresentando padrões distinguíveis dos norte-americanos ou africanos.
Uma distinção crucial – e frequentemente mal compreendida – é a diferença entre glossolalia e xenoglossia. Enquanto a primeira refere-se à expressão em uma "língua desconhecida" ou "língua do Espírito", a segunda designa o fenômeno raro de falar um idioma humano real sem tê-lo aprendido previamente. O episódio de Pentecostes, conforme registrado em Atos 2, apresenta características de xenoglossia, pois os ouvintes reconheceram seus próprios idiomas sendo falados. Entretanto, a maior parte das manifestações contemporâneas classificam-se como glossolalia propriamente dita.
Porque, se eu orar em língua, o meu espírito ora, mas o meu entendimento fica infrutífero. Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com o entendimento; cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento. (1 Coríntios 14:14-15)
Estas palavras do Apóstolo Paulo revelam uma compreensão profunda da natureza da glossolalia: é uma expressão que transcende o entendimento intelectual, operando num nível espiritual. Não seria este um convite para reconhecermos as limitações da linguagem humana e nos abrirmos para formas de comunicação que ultrapassam os confins do racional? Afinal, como expressar o inefável, o transcendente, senão através de uma linguagem que emerge das profundezas do ser, tocada pelo sopro divino?
Explicações Psicológicas e Neurocientíficas
Enquanto seu espírito se eleva em adoração, já imaginou o que acontece no templo interior do seu cérebro? As neurociências modernas têm lançado luzes fascinantes sobre os mistérios da glossolalia, não para diminuir sua sacralidade, mas para ampliar nossa compreensão sobre como Deus opera através de nossa própria fisiologia. Afinal, não fomos criados como seres integrados – corpo, alma e espírito unidos em harmonia perfeita?
Em 2006, o neurocientista Dr. Andrew Newberg e sua equipe da Universidade da Pensilvânia realizaram um estudo inovador com praticantes de glossolalia, utilizando tomografia computadorizada por emissão de fóton único (SPECT) para mapear o fluxo sanguíneo cerebral durante estas experiências. Os resultados revelaram um padrão neurológico intrigante: ao contrário de outros estados alterados de consciência como meditação ou transe, onde o lobo frontal (área de controle executivo) permanece ativo, durante a glossolalia observou-se uma redução significativa da atividade nesta região.
Simultaneamente, áreas associadas às emoções e à espiritualidade mostravam aumento de atividade. Este padrão neurológico único é consistente com os relatos dos praticantes, que descrevem uma sensação de "entrega" ou "rendição" durante a experiência – como se outra Presença assumisse o controle de sua fala.
Imagens de neuroimagem revelam padrões únicos de ativação cerebral durante experiências de glossolalia, mostrando como áreas associadas ao controle consciente da linguagem apresentam atividade reduzida enquanto regiões emocionais e espirituais intensificam sua atuação.
Estados Alterados de Consciência e Dissociação
A glossolalia frequentemente ocorre em estados de consciência distintos do cotidiano – não no sentido patológico, mas como uma forma de abertura a dimensões experienciais além da racionalidade ordinária. Psicólogos como William James já reconheciam que certos estados de consciência podem facilitar experiências religiosas profundas. A dissociação leve – uma separação temporária entre diferentes funções da consciência – pode ser um mecanismo que permite ao indivíduo transcender as limitações da linguagem convencional e acessar formas de expressão mais primordiais e espontâneas.

Ativação Emocional
Intensa atividade nas regiões límbicas relacionadas às emoções profundas e experiências transcendentes

Alteração de Ondas Cerebrais
Aumento de ondas teta e alfa, associadas a estados de relaxamento profundo e meditação

Desativação Frontal
Redução da atividade nos lobos frontais, áreas responsáveis pelo controle executivo e pelo monitoramento da fala

Padrão Linguístico Único
Ativação de áreas relacionadas à produção da fala, mas com padrões distintos da linguagem normal
É fascinante observar que, embora ocorra uma aparente "perda de controle" durante a glossolalia, pesquisas mostram que os praticantes mantêm a capacidade de interromper voluntariamente a experiência quando necessário, demonstrando que não se trata de um estado de transe involuntário ou patológico. Mais significativo ainda, estudos psicológicos longitudinais indicam que praticantes regulares da glossolalia tendem a apresentar maior bem-estar psicológico, menor ansiedade e maior resiliência emocional comparados a grupos de controle.
De igual modo também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. (Romanos 8:26)
Não seria maravilhoso perceber que, através da neurociência moderna, podemos contemplar como o versículo acima se materializa em nossa fisiologia? Quando o Espírito Santo intercede "com gemidos inexprimíveis", talvez esteja atuando precisamente naquelas regiões cerebrais que transcendem nossa linguagem consciente, permitindo uma expressão que brota das profundezas do nosso ser, onde espírito humano e Espírito Divino se encontram em comunhão íntima.
Funções Sociais e Individuais da Glossolalia
Quando você observa uma congregação inteira elevando suas vozes em glossolalia, ou quando, em sua intimidade com Deus, palavras desconhecidas fluem de seus lábios, algo muito mais profundo que um simples fenômeno linguístico está acontecendo. Como seria experimentar essa comunhão que transcende as barreiras da comunicação ordinária, sentindo-se simultaneamente conectado ao divino e integrado a uma comunidade de fé?
A glossolalia desempenha funções sociais vitais nas comunidades que a praticam. Primeiramente, funciona como um poderoso marcador de identidade – é um sinal visível e audível da presença do Espírito Santo, confirmando tanto para o indivíduo quanto para a comunidade seu pertencimento ao corpo de Cristo. "E estes sinais seguirão aos que crerem: em meu nome [...] falarão novas línguas" (Marcos 16:17). Este fenômeno cria uma linguagem comum que transcende barreiras culturais, socioeconômicas e educacionais, unificando pessoas de origens diversas sob uma mesma experiência espiritual.
Nos cultos pentecostais e carismáticos brasileiros, a glossolalia frequentemente serve como catalisador de momentos de intenso fervor coletivo, onde a expressão espontânea cria uma atmosfera de abertura ao transcendente. Pesquisadores como Cécile Vernant, antropóloga que estudou comunidades pentecostais no Brasil, observaram como estes momentos frequentemente precedem manifestações como profecias, curas e libertações espirituais.
Fortalecimento da Fé
A glossolalia atua como evidência experiencial da presença divina, fortalecendo a convicção pessoal e protegendo contra dúvidas que surgem em tempos de provação.
Catarse Emocional
Proporciona liberação de tensões, permitindo expressão emocional profunda além das limitações das palavras conhecidas, especialmente em situações de profunda angústia ou alegria extrema.
Crescimento Espiritual
Praticantes relatam maior intimidade com Deus, sensibilidade espiritual aumentada e maior discernimento após períodos regulares de oração em línguas.
Acesso ao Sobrenatural
Funciona como "porta de entrada" para outras manifestações carismáticas, abrindo o crente para uma dimensão espiritual mais profunda onde outros dons podem se manifestar.
No plano individual, as transformações relatadas pelos praticantes são igualmente impressionantes. Maria Silva, uma professora de 42 anos de uma congregação pentecostal em São Paulo, compartilha: "Antes de experimentar o batismo com o Espírito Santo e falar em línguas, minha fé era mais intelectual, baseada no que eu aprendia nos estudos bíblicos. Depois dessa experiência, tudo mudou. É como se Deus tivesse saído dos livros e entrado no meu coração. Agora, quando oro em línguas, sinto uma paz que supera todo entendimento, mesmo em situações que antes me deixariam completamente ansiosa."
Estudos psicológicos conduzidos por pesquisadores como o Dr. Howard Spanos indicam que praticantes regulares da glossolalia demonstram maior capacidade de enfrentar situações estressantes e maior bem-estar subjetivo. Não seria esta mais uma evidência da graça divina operando através deste dom? Como Paulo afirmou: "Aquele que fala em língua edifica-se a si mesmo" (1 Coríntios 14:4).
Nova criatura sou em Cristo Jesus. Quando oro no Espírito, comunico-me com Deus em uma linguagem celestial, e meu espírito regenerado se fortalece, preparando-me para manifestar com mais plenitude a natureza divina que já habita em mim.
Você já se permitiu experimentar esta dimensão da comunicação espiritual? Talvez o convite esteja aberto, não para buscar um fenômeno em si, mas para se abrir a uma intimidade mais profunda com o Espírito Santo que já habita em você, que deseja se expressar através de você de maneiras que transcendem os limites da linguagem humana.
Glossolalia e a Linguística Moderna
Imagine-se diante de um fenômeno que desafia as próprias definições do que constitui uma "língua". A glossolalia coloca os linguistas modernos frente a um fascinante paradoxo: como classificar e compreender uma forma de expressão que possui estrutura e padrões detectáveis, mas que não carrega significado léxico no sentido convencional? Como seria ver esta manifestação espiritual através das lentes da ciência linguística, descobrindo que mesmo no aparente caos existe ordem, mesmo no transcendente existem padrões discerníveis?
A linguística moderna, desde suas origens com Ferdinand de Saussure, fundamenta-se na compreensão da língua como um sistema estruturado de signos onde significantes (sons, palavras) correspondem a significados convencionados. A glossolalia desafia este paradigma ao apresentar significantes aparentemente organizados, mas sem significados detectáveis através de métodos convencionais de análise linguística.
No entanto, pesquisadores contemporâneos como Felicitas Goodman e William Samarin, ao aplicarem métodos rigorosos de análise fonológica, sintática e prosódica à glossolalia, descobriram que esta manifestação está longe de ser meramente aleatória. O Dr. Samarin, após extensivos estudos com pentecostais em diferentes países, concluiu que a glossolalia apresenta "uma pseudo-linguagem – construída a partir de unidades semelhantes a palavras, organizadas por regras fonológicas e sintáticas, dando uma impressão de linguagem real, mas sem significado nas línguas humanas conhecidas".
Linguistas modernos utilizam tecnologias avançadas para analisar os padrões sonoros da glossolalia, identificando estruturas fonológicas e sintáticas que revelam surpreendente organização em um fenômeno frequentemente descrito como "caótico".
Estruturas Linguísticas Identificáveis
Um estudo conduzido pela Universidade de São Paulo analisou manifestações de glossolalia em igrejas pentecostais brasileiras, comparando-as com registros de outros países. Os pesquisadores identificaram que os falantes brasileiros tendem a incorporar características fonológicas do português em suas expressões glossolálicas – como a predominância de vogais abertas e padrões rítmicos específicos – evidenciando como a cultura linguística molda até mesmo estas expressões transcendentais.
Felicitas Goodman, em seu trabalho pioneiro "Speaking in Tongues: A Cross-Cultural Study of Glossolalia", propôs que a glossolalia poderia ser compreendida como uma "linguagem de transe" – uma forma de expressão que emerge quando o falante acessa estados alterados de consciência. Sua hipótese sugere que, embora não seja uma língua no sentido convencional, a glossolalia pode representar um modo universal de expressão vocal que emerge quando as estruturas cognitivas que controlam a linguagem ordinária são temporariamente modificadas pela experiência espiritual.
Se, com efeito, ignoro a significação da voz, serei estrangeiro para aquele que fala, e ele, estrangeiro para mim... Se, pois, eu não souber o sentido da voz, serei bárbaro para aquele a quem falo, e ele, bárbaro para mim. (1 Coríntios 14:11)
Não é fascinante observar como Paulo já demonstrava uma sofisticada compreensão linguística ao discutir a glossolalia? Ele reconhecia que uma língua sem significado compartilhado cria uma barreira comunicativa, enquanto simultaneamente afirmava seu valor espiritual. Como nova criatura em Cristo, talvez você seja convidado a integrar estas perspectivas aparentemente contraditórias – abraçando tanto o rigor analítico da ciência linguística quanto a abertura para experiências transcendentes que desafiam nossos paradigmas convencionais de comunicação.
Controvérsias e Críticas sobre a Glossolalia
Ao longo de toda a história cristã, poucos fenômenos geraram tanta polarização quanto a glossolalia. Desde o avivamento pentecostal do início do século XX, este dom espiritual tem sido alvo de intensos debates, críticas severas e defesas apaixonadas. Como seria ver esta questão através de múltiplas perspectivas, reconhecendo tanto as preocupações legítimas quanto os testemunhos autênticos, buscando a verdade com um coração sincero e mente aberta?
As críticas à glossolalia provêm de diversos ângulos – teológico, científico, sociológico – e merecem atenção cuidadosa. Teólogos cessacionistas, como John MacArthur, argumentam que os dons miraculosos, incluindo línguas, cessaram após a era apostólica. Baseiam-se principalmente em interpretações de 1 Coríntios 13:8-10, onde Paulo afirma que "as línguas cessarão". Na visão cessacionista, o "perfeito" que viria seria o cânon completo das Escrituras, tornando desnecessários os dons revelacionais transitórios.
Já cientistas céticos, como o neurologista Dr. Steven Novella, questionam se a glossolalia representa algo além de um comportamento aprendido sociologicamente, apontando para pesquisas que demonstram como indivíduos não religiosos podem ser treinados para produzir vocalização semelhante à glossolalia em condições experimentais.
Críticas Teológicas
  • Interpretação de que os dons cessaram com a era apostólica
  • Preocupação com excessiva ênfase em experiências emocionais
  • Questionamento sobre possível origem demoníaca em casos específicos
  • Discordância quanto à doutrina do "batismo no Espírito" como experiência distinta da conversão
Críticas Científicas
  • Evidências de que a glossolalia pode ser aprendida e reproduzida
  • Estudos mostrando semelhanças com comportamentos induzidos por sugestão
  • Ausência de comprovação linguística de que seja um idioma estruturado
  • Explicação através de mecanismos psicológicos de dissociação e estados alterados de consciência
Críticas Sociológicas
  • Pressão social para "receber o dom" como marca de espiritualidade superior
  • Potencial manipulação por líderes carismáticos
  • Divisões na igreja entre os que "têm o dom" e os que não têm
  • Excessivo foco no fenômeno em detrimento de outros aspectos da fé
O teólogo reformado Wayne Grudem oferece uma posição mais equilibrada, defendendo a continuidade dos dons, mas advertindo contra excessos: "É preciso distinguir entre o dom genuíno e suas falsificações ou distorções. A possibilidade de abuso não justifica o abandono do uso adequado." Ele aponta que Paulo não aboliu o dom, mas estabeleceu parâmetros para seu exercício ordenado na igreja.
Uma preocupação legítima centra-se nos casos de manipulação ou indução psicológica da glossolalia. Em ambientes onde existe forte pressão social para manifestar este dom como prova de espiritualidade, observam-se casos de glossolalia imitativa ou forçada. O psicólogo cristão Dr. Fernando Barcellos observa: "Quando o valor de um crente na comunidade é medido pela sua capacidade de falar em línguas, criamos condições para manifestações que brotam do desejo de aceitação social, não do Espírito Santo."
A mídia frequentemente retrata a glossolalia de forma sensacionalista ou ridicularizadora, amplificando casos extremos e ignorando as experiências genuínas e transformadoras relatadas por milhões de cristãos sérios e equilibrados ao redor do mundo. Esta representação distorcida contribui para o preconceito e incompreensão do fenômeno.
Não extingais o Espírito. Não desprezeis as profecias. Examinai tudo. Retende o bem. (1 Tessalonicenses 5:19-21)
Este conselho paulino oferece uma abordagem sábia: nem rejeição cética a priori, nem aceitação ingênua de tudo que se apresenta como espiritual, mas discernimento que examina e retém o bem. Como nova criatura em Cristo, você é convidado a cultivar este equilíbrio – aberto às manifestações genuínas do Espírito, mas exercendo o discernimento bíblico; respeitoso com as diferentes perspectivas teológicas, mas firmemente ancorado nas Escrituras; reconhecendo os insights valiosos da ciência, mas sem reduzir a experiência espiritual a meras explicações naturalistas.
Panorama Atual e Perspectivas Futuras da Glossolalia
Enquanto caminhamos pelo século XXI, a glossolalia continua sendo uma expressão vibrante da espiritualidade cristã, especialmente no Brasil e no Sul Global. Como seria olhar além das divisões denominacionais e perceber os padrões emergentes, a evolução das compreensões teológicas e as novas fronteiras de pesquisa sobre este fenômeno? O que o futuro reserva para esta antiga prática em um mundo cada vez mais conectado e interdisciplinar?
O Brasil se tornou um epicentro global do pentecostalismo e do movimento carismático, com estimativas indicando que cerca de 30% dos cristãos brasileiros – aproximadamente 40 milhões de pessoas – pertencem a denominações ou comunidades onde a glossolalia é praticada e valorizada. Da pequena igreja na periferia urbana às mega-igrejas que reúnem dezenas de milhares de fiéis, o dom de línguas continua a ser uma marca distintiva da espiritualidade brasileira contemporânea.
Interessantemente, observa-se uma evolução nas interpretações teológicas dentro das próprias comunidades pentecostais e carismáticas. O teólogo pentecostal brasileiro Paulo Romeiro observa: "Estamos testemunhando um amadurecimento teológico onde a glossolalia não é mais vista isoladamente, mas como parte de uma espiritualidade integral que abrange santidade pessoal, compromisso social e discipulado cristocêntrico."

Fundamentação Teológica Mais Robusta
Desenvolvimento de reflexões teológicas que integram a experiência carismática com uma hermenêutica bíblica mais sólida e diálogo ecumênico
Pesquisa Científica Interdisciplinar
Colaboração entre neurocientistas, linguistas, psicólogos e teólogos para compreensão mais holística do fenômeno
Reconciliação Eclesial
Maior aceitação entre denominações históricas e crescente respeito mútuo entre diferentes tradições cristãs
Adaptações Culturais Contextualizadas
Expressões da glossolalia sendo integradas às diversas culturas globais de formas autênticas e relevantes
As pesquisas sobre glossolalia estão entrando em uma nova era de sofisticação metodológica e abertura interdisciplinar. O Centro de Estudos Cognitivos da Religião, na Universidade Federal de Minas Gerais, iniciou um projeto pioneiro combinando neuroimagem, análise linguística computacional e etnografia para estudar manifestações glossolálicas em diversos contextos culturais brasileiros. "Estamos superando a falsa dicotomia entre explicações teológicas e científicas", afirma a Dra. Raquel Santos, coordenadora do projeto. "Nosso objetivo é compreender tanto os mecanismos neurobiológicos quanto os significados espirituais atribuídos pelos praticantes."
O teólogo James K.A. Smith sugere que a glossolalia pode oferecer importantes contribuições para um mundo pós-secular, onde as limitações da razão instrumental são cada vez mais reconhecidas: "A glossolalia representa uma forma de conhecimento incorporado, uma sabedoria que transcende os limites da racionalidade discursiva. Em uma época que redescobre a importância da corporeidade e da afetividade, esta prática antiga pode oferecer caminhos para uma espiritualidade integradora."
2.5B
Cristãos Pentecostais/Carismáticos
Estimativa global em 2023
600M
Praticantes Regulares
Pessoas que experimentam glossolalia
35%
Taxa de Crescimento
Aumento na última década
107
Países
Com comunidades pentecostais significativas
Ao contemplar o futuro da glossolalia no panorama religioso global, vislumbramos possibilidades fascinantes de diálogo inter-religioso. O fenômeno pode servir como ponte para conversas respeitosas sobre experiências extáticas e transcendentais presentes em diversas tradições espirituais, desde o dhikr sufi até práticas contemplativas budistas, sempre mantendo a especificidade cristã centrada em Cristo.
E estes sinais seguirão aos que crerem: em meu nome, expulsarão demônios; falarão novas línguas... (Marcos 16:17)
Este versículo não seria tanto uma previsão quanto um convite contínuo? Como novas criaturas em Cristo, somos convidados a experimentar a plenitude dos dons do Espírito, não como fins em si mesmos, mas como expressões do poder transformador de Deus operando em nós e através de nós. A glossolalia continua a ser um sinal vibrante da presença do Espírito Santo na igreja, unindo o céu e a terra através da linguagem transcendental do espírito regenerado, permitindo que nossa nova identidade em Cristo se expresse de maneiras que ultrapassam as limitações da linguagem humana.